Na noite de quarta-feira, 29 de novembro, famílias e
educadores dos Anos Iniciais, Anos Finais e do Ensino Médio participaram da
última edição do ano do programa Cuidar é Básico, com o tema “Eu me comprometo:
o papel das famílias na prevenção do uso de álcool e outras drogas”. Clique
aqui para assistir ao vídeo da palestra.
No primeiro momento do encontro, a psicóloga e membro do
Centro de Pesquisas em Álcool e Drogas da UFRGS, vinculado ao Hospital de
Clínicas de Porto Alegre, Lysa Silveira Remy, falou sobre “Álcool, maconha e outras
drogas: problemas ou diversão?”. A especialista enfatizou, em relação ao
consumo de álcool, que o chamado beber em Binge, ou seja, uso pesado e
episódico (somente aos finais de semana, por exemplo) é muito mais fatal. “O
que é beber socialmente? Só se diverte quem bebe? A diversão está sempre
vinculada a ter que beber”, questionou. Lysa também afirmou que, muitas vezes,
a bebida é utilizada como “remédio”, seja para o jovem tomar coragem ou para
não se sentir fora do grupo.
Para exemplificar, Lysa mostrou uma pesquisa do Instituto
Nacional de Políticas Públicas e Drogas que concluiu que o adolescente que bebe
em excesso não só desenvolve um comportamento de risco, como engravidar,
envolver-se em brigas e tirar nomes baixas na escola, como pode causar graves
danos ao organismo. Quando chegam à fase adulta, tornam-se pessoas mais propensas
a virar dependente de álcool ou drogas ilícitas e a desenvolver depressão ou
transtorno mental. “Os jovens são mais vulneráveis ao uso das drogas. A
adolescência é um período de conflitos pessoais, necessidade de integração
social, busca de autoafirmação e independência. O adolescente acha que nada vai
acontecer. Ele não tem a real noção das consequências do que ele faz”,
destacou.
A psicóloga trouxe para os presentes algumas das tarefas do
desenvolvimento na adolescência – busca de identidade e autonomia,
comprometimento com metas e ganhar aceitações dos colegas –, salientando que
comportamentos de risco podem favorecer ou impedir a realização bem-sucedida
dessas tarefas. Os adolescentes estão mais vulneráveis aos fatores de risco
principalmente em períodos de transição da vida, ou quando são inseridos em um
novo contexto ambiental, como, por exemplo, o início em uma nova escola ou na
faculdade. “A forma adaptativa a esses eventos é influenciada pelo seu
desenvolvimento cognitivo, emocional e social, história passada e relações
familiares”, explicou Lysa.
Em relação à prevenção, ela deve iniciar ainda na infância,
já que as crianças têm maior sensibilidade às experiências e influências
ambientais, e é fundamental o ambiente familiar, considerado o contexto mais
importante em todos os períodos de desenvolvimento. “Os pais são o principal
alvo de muitas intervenções”, frisou. A escola deve trabalhar em conjunto com
as famílias, adotando ações preventivas em anos pré-escolares e primários.
Eu me comprometo?
No segundo momento da noite, o psicólogo e mestrando em
Toxicologia pela UFRGS Nino Marchi abordou a importância de as famílias
estabelecerem “contratos” com os filhos. “Temos que aumentar a conexão entre os
pais e os filhos e, para isso, devemos acertar o tom das combinações”, disse. O
especialista divulgou um estudo do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e
Crime (UNODC) que mostra que, pela primeira vez em seis anos, aumentou o número
de usuários problemáticos pelo uso de substâncias.
Marchi frisou que o cérebro atinge a sua maturação somente
aos 20 anos de idade; daí a importância de as famílias prevenirem que os seus
filhos não bebam na adolescência. “Pais e filhos se modificam. Ao longo do
tempo, acontecem mudanças individuais de cada um dos membros da família, mas o
monitoramento com afeto segue sendo muito importante”.