Existe uma fórmula para educar? Foi assim que o consultor em
educação e professor Júlio Furtado iniciou o encontro do Cuidar é Básico “Educar
filhos: cuidar mais do que proteger”, na noite de terça-feira, 29 de agosto, para
pais de todos os níveis de ensino. O especialista abordou a importância da
autonomia e da responsabilidade dos estudantes com o seu processo de aprendizagem
e vida escolar, e o papel dos pais.
Para ele, os pais da atualidade vivem uma transição da
disciplina do medo ao medo da disciplina. Ao falar sobre o pai amigo, ele
lembrou que o perigo de muitas famílias é o de achar que o processo de educação
acontece de forma horizontal, mas que isso não pode acontecer: ele deve ser
vertical, cada um compreendendo o seu papel.
Além disso, é importante que os pais estabeleçam limites às
crianças, evitando que se façam as vontades delas toda hora, já que isso desenvolve a
insegurança. “A criança precisa sentir que tem alguém mais forte no comando.
Aparentemente, pensamos que essa criança está se desenvolvendo de forma
autônoma, mas internamente não é isso que acontece”, destacou.
Furtado ressaltou que a geração atual dos pais é carente e
facilmente manipulável, e que o ato de educar não é fácil e não é para qualquer
um, pois ele exige planejamento, foco e, principalmente, o ato de abrir mão. “Será
que estão preparados para abrir mão? Muitos pais não querem”, frisou. O
professor afirmou, ainda, que dar tablets e celulares para crianças muito
pequenas atrasa o desenvolvimento cognitivo e motor das crianças. “Não se educa
aos finais de semana! Não se educa deixando para lá, ou utilizando os famosos ‘você
que sabe’ ou ‘continue fazendo isso para ver o que vai acontecer’”.
Papel dos pais x
papel da escola
Durante a sua fala, Furtado esclareceu que a família é
responsável pela educação do sujeito moral e individual, enquanto que a
responsabilidade da escola é a de desenvolver o sujeito aprendiz coletivo. A
família e a escola, entretanto, devem andar de mãos dadas neste processo. “A
criança precisa entender os seus papéis. Ele é filho do portão da escola para
fora, e aluno do portão da escola para dentro”, disse.
O especialista destacou que o papel dos pais é desenvolver
independência emocional, autodisciplina, capacidades e valores morais. Cabe à
família criar pertencimento e individuação, enquanto que cabe à escola
desenvolver o senso de coletividade e atividade sócio científica. “A família e
a escola devem ser funcionais: cada uma desenvolve os seus papéis, a escola com
foco no aluno e a família no filho”, complementou.
Em relação ao dever de casa, Furtado lembrou que ele
pertence ao aluno, e que os pais não devem deixar de sair e de fazer as suas coisas
porque o filho tem tema, ou ainda, fazê-lo pelos filhos. “Os pais podem ajudá-lo
mostrando que as responsabilidades precisam ser cumpridas e que podem favorecer
que ele tenha rotina”, ensinou. O dever de casa é um termômetro da aprendizagem
do aluno, e a escola tem que saber o que ele sabe e o que ele não sabe.
Dicas para desenvolver a autonomia dos filhos:
- Respeite o tempo que eles necessitam para desenvolver a
tarefa;
- Suspenda seu nível de expectativa e exigência;
- Não permita que eles “não façam”;
- Auxilie no que não estiverem conseguindo;
- Faça com que terminem as tarefas antes de começarem outra;
- É preciso que assumam consequências quando falharem;
- Dê tarefas rotineiras a partir dos três anos;
- Leve-os a administrar seu espaço e seus pertences;
- Eduque-os financeiramente.
Dicas sobre o dever de casa:
- Não ensine como fazer a tarefa. Ajude-o a compreender;
- Não faça a atividade pela criança;
- Não ligue para outras mães perguntando se há dever de
cada, porque o seu filho não sabe informar;
- Não arrume o material na mochila todos os dias;
- Deixe-o assumir as consequências enquanto aluno;
- Acompanhe-o de perto, mas não esqueça de que ele precisa
cair para aprender a se levantar;
- As quedas são necessárias. Você fracassa quando não os
deixa cair.