Jaderson Costa da Costa possui graduação em Medicina,
Mestrado em Ciências Biológicas, Mestrado em Neurociências e Doutorado em
Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É professor
titular de Neurologia da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul e Diretor do Instituto do Cérebro do RS. Tem experiência
na área de Medicina, com ênfase em Neurologia. Atualmente, é vice-reitor da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. No sábado, 06 de maio, ele
e o neurocientista Dr. André Palmini estiveram no Colégio Farroupilha para
palestrar na 6ª edição do Inteligência Coletiva (Relembre como foi o evento). Aproveitando
essa visita, conversamos com eles sobre neurociência, educação, afeto e
tecnologias.
Veja aqui a entrevista com o Dr. André Palmini.
-Muito se tem
discutido sobre a escola ter um papel de formação integral, que para além de
ensinar conteúdos, trabalha o desenvolvimento socioemocional do estudante. Qual
a sua percepção sobre isso?
Hoje quando falamos sobre o que é a saúde, contamos vários níveis,
a saúde física, emocional, social e espiritual. Na realidade, para completarmos
a noção de felicidade nós temos que estar com esses elementos todos, ninguém
consegue ser muito feliz com uma dor física, muito feliz tendo problemas
mentais ou sociais, é difícil. Então, quando tu falas “eu sou um educador”, tu
não estás somente olhando para o aspecto cognitivo, tu estás pensando no
desenvolvimento das pessoas em todas essas dimensões. Evidentemente, cada setor
da sociedade é responsável por uma parte disso, mas não necessariamente ele
exclui outros atores.
- Nesse sentido de a escola trabalhar também outros
aspectos além do cognitivo, o senhor pode falar um pouco sobre a relação entre
afeto e aprendizagem?
Podemos pensar que a família é a grande responsável pelo
afeto, por questões sociais e emocionais, o que é verdadeiro, e a escola é só
pelo cognitivo, o que é errado, porque esse aspecto cognitivo deve vir com um envolvimento
emocional, social, um acolhimento. Então, quando falamos sobre essa questão do
afeto na escola, não estamos falando sobre aquela coisa de pegar no colo,
abraçar, beijar e mimar, não é isso. Estamos falando de escutar, de olhar, de entender
as dificuldades, de facilitar o caminho, de motivar.
- E essa motivação
interfere no interesse do estudante pelo conteúdo ou em sua facilidade para
compreendê-lo?
Absolutamente sim! Isso acontece com os adultos também. Nós preferimos
fazer as coisas que gostamos e que temos facilidade, e procrastinamos o resto. O
jovem faz a mesma coisa. Ele pode pensar “Física? É um horror aquela coisa”,
mas no momento em que o professor o motiva e mostra pra ele que aquilo é
interessante, ou que em um pequeno acerto ele é estimulado, ele pode vir a se
tornar “o” físico.
- Agora falando um
pouco sobre as relações entre tecnologia, redes sociais e a neurociência, o
senhor pode apontar diferenças que podem ser notadas em uma pessoa que faz uso
frequente de tecnologia para o de uma pessoa que não a usa ou que faz pouco uso
dela?
Eu acho que existe no nosso cérebro um potencial tremendo e
temos áreas que estão dormentes. Vou dar um exemplo pessoal, quando eu assumi
um novo desafio de ser vice-reitor da PUCRS, eu tive que me apropriar de
assuntos que fugiam da minha área de atuação, que é a neurociência. Então,
conexões minhas que estavam dormindo começaram a se ligar porque meu cérebro está
sendo estimulado a fazer conexões que talvez eu não usaria porque eu não tinha
sido provocado. Outro exemplo de grande uso está aqui na sua mão [apontando
para o smatphone]. O homem se diferenciou do símio no momento em que ele fez a oponência
[faz o gesto de pinça com o polegar e o indicador], pois o macaco tem atrofia
dessa região e foi esse movimento que nos permitiu desenvolver habilidades como
a escrita. Mas, as crianças de dois ou três anos já pegam um smartphone e passam
o dedo indicador na tela. Esta é uma
habilidade que estava latente e que se desenvolveu em função da tecnologia. Outra
habilidade que se diferenciou com a tecnologia foi a visual. Hoje, por exemplo,
tu pegas o celular e vê as imagens passando na horizontal ou na vertical, em um
movimento e em uma velocidade que não são as do papel. Esta é uma habilidade
visual e de captação que tu desenvolvestes. Tem uma série de questões que a tecnologia,
de certa forma, nos permitiu expressar, não que não as tivéssemos, mas hoje são
quase natas. O homem medieval tinha que ter uma força descomunal porque a armadura
dele pesava 15 ou 20 quilos e hoje não tem ninguém que carrega uma armadura com
esse peso. Então nós perdemos habilidades para atividades que a tecnologia
propiciou que pudéssemos fazer de outras formas. Alguém se levanta hoje para
desligar a TV? Tem controle remoto e se tu quiseres chegar perto da TV para desliga-la,
tu não vais saber onde é o botão.
- E como o senhor
enxerga o papel dessas tecnologias na educação?
A tecnologia deve ser encarada como um facilitador, não como
um substituto. A tecnologia não vai substituir o bom professor, nunca! Mas ela
pode facilitar a vida do professor e do aluno, sim. No momento que o professor
consegue hoje postar um PDF para os alunos terem acesso em qualquer uma das
tecnologias que hoje eles tenham disponível, isso é uma maravilha. Ele [o
estudante] não precisa fazer xerox, não precisa levar nada para a casa. Isso é
maravilhoso, mas substitui o professor? Não em absoluto. É o professor que vai
selecionar, é o professor que vai orientar. Então a tecnologia tem que estar a
serviço da humanidade e não contra a humanidade. O que se deve cuidar são os
excessos, porque a tecnologia veio para nos ajudar, não atrapalhar. O mesmo aço
que serve para termos os nossos automóveis faz a arma que pode matar.