O
sábado, 06 de maio, foi bastante animado e produtivo no Colégio Farroupilha. No
início da manhã, cerca de 150 educadores da instituição foram recebidos, ao som
da banda MotherFunky, para a sexta edição do evento Inteligência Coletiva, que
integra a Escola de Professores Inquietos. A temática trabalhada abordou uma
inter-relação entre neurociência e educação. Veja algumas fotos.
Na
abertura do evento, a diretora pedagógica, Marícia Ferri, destacou a
importância de entender como se dá o desenvolvimento cerebral e de que forma
ele impacta o processo de ensino e aprendizagem.
O
evento teve sequência com seis workshops voltados a práticas inovadoras em
educação e duas palestras, realizadas por neurologistas e pesquisadores do
Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul – PUCRS (InsCer).
Workshops movimentam a manhã
Entre 8h e 9h30, os educadores
participaram de um dos seis workshops, previamente escolhidos por eles. A
psicóloga Denise Maia, que auxiliou o Colégio Farroupilha na elaboração da
Matriz Socioemocional, foi a convidada da oficina “Por que trabalhar com
habilidades sociais na escola?”. A especialista falou sobre as diferentes
possibilidades de intervenções no ambiente escolar, salientando a importância
de se trabalhar a convivência com os alunos. “Precisamos aprender a conviver e
a negociar as nossas diferenças”, ressaltou. Denise apresentou alguns
documentos sobre habilidades sociais que nortearam as discussões do workshop, entre eles o Referencial da
ONU de Educação para a Paz, que trabalha a diversidade e a humanidade comum; as
Habilidades para a Vida da Organização Mundial da Saúde (OMS), que são o
autoconhecimento, o relacionamento interpessoal, a empatia, o pensamento
crítico e criativo, capacidade de lidar com sentimentos, estresse e resolução
de conflitos; o Relatório Delors da UNESCO, que define os quatro pilares para a
educação no século XXI (aprender a conhecer, a fazer, a viver juntos e a ser);
e o mais atual, o Relatório de Educação para a cidadania global da UNESCO, que
entende a formação do cidadão para o mundo.
A proposta do workshop “Tirando ideias do papel” foi oferecer aos educadores um momento
de reflexão e de prática sobre como incentivar os estudantes a terem uma
mentalidade proativa e empreendedora. “A atividade iniciou com uma grande roda
de conversa para que os professores se enxergassem uns nos outros, se
empoderarem e perceberem que os seus alunos também precisam disso. Depois,
fizemos dois processos criativos que possibilitaram pensar em práticas para
levar para a sala de aula nos próximos dias”, explicou o ministrante do
workshop, Luciana Braga.
Outro grupo de educadores pôde
aprender na prática como a mágica pode ser uma aliada da aprendizagem. A
professora e mágica Lúcia Gomes trouxe para o workshop “Unindo a pedagogia à arte mágica” alguns exemplos de
mágicas que podem ser aplicadas no dia a dia da sala de aula. Para ela, a
mágica oportuniza o encantamento a partir de uma linguagem de comunicação
diferente, criativa e familiar aos estudantes. “A mágica pode ser inserida em
todos os assuntos no processo de ensino. Ela traz encantamento e a aprendizagem
se torna mais legal e bacana para os alunos”, afirmou.
Em “Teatrando o
saber: expressão e criatividade para professores”, os educadores tiveram uma
imersão no universo do teatro, por meio de um workshop vivencial. Eles
exercitaram a criatividade ao interagirem com objetos concretos e imaginários e
ao improvisar, e também puderem vivenciar momentos de percepção do olhar, do
foco e da energia. “O teatro nos empresta essa possibilidade de trabalhar com o
que vem no momento, de viver o agora. Isso envolve troca, a imaginação, a
criatividade e o jogo de cintura. E é possível transcrever tudo isso para o dia
a dia na sala de aula”, afirmou a artista Lolita Goldschmidt, responsável pelo
workshop.
Construir experiências a partir de
ferramentas e processos criativos que potencializem o engajamento e a
realização de projetos dentro e fora da sala de aula foi o objetivo do workshop
“Colab: experimentando o poder da colaboração”, desenvolvido pela Pulsar, hub de cultura empreendedora. Na
atividade, os professores refletiram sobre como colaborar uns com os outros
buscando o saber docente pessoal e em cada área do saber, como tornar o aluno
mais colaborativo e motivados e como desenvolver um trabalho disruptivo e
inovador. “Para que o aluno se torne colaborativo é preciso um processo de
sensibilização anterior. E o professor terá que ver qual é o seu ponte forte
para conseguir isso. Pode ser através da música, de jogos, de apresentações,
etc.”, explicou Guilherme Viegas, um dos membros da empresa.
Já no workshop
“Teoria audiovisual aplicada à escrita criativa”, oferecido pela Fluxo – Escola
de Fotografia Expandida, os educadores viram alternativas para desenvolver a
escrita criativa em sala de aula a partir de uma simplificação da teoria
audiovisual. Por meio de exemplos extraídos de filmes, eles exploraram
elementos básicos para escrever uma narrativa, como a síntese, a criação do
personagem principal e as etapas de uma história.
Palestras complementam a aprendizagem
Após curtirem
muito o intervalo ao som da banda MotherFunky, os educadores reuniram-se no
auditório para palestras com os neurologistas e pesquisadores do Instituto do
Cérebro do Rio Grande do Sul – PUCRS (InsCer), Dr. Jaderson Costa da Costa e
Dr. André Palmini.
Neurodesenvolvimento, razão, emoção e
motivação
Foi o tema da
palestra do diretor do Instituto do Cérebro do RS e professor titular de
Neurologia da Faculdade de Medicina da PUCRS, Dr. Jaderson Costa da Costa. Fazendo
uma analogia com a construção de uma casa, o especialista abordou o
desenvolvimento cerebral, explicando que existem duas fases importantes desse
neurodesenvolvimento, uma que se dá antes do nascimento (como a estruturação de
uma casa), e outra pós-natal (que remete ao aprimoramento dessa estrutura). De
acordo com Costa, ao nascer o bebê já nasce com a estrutura necessária pronta e
ela se aprimora no decorrer da vida, tendo os primeiros mil dias de vida muita
relevância nesse processo. O médico enfatizou ainda que muito deste
desenvolvimento depende das experiências vividas. “Elas desempenham um papel
importante na seleção e ativação das sinapses [regiões localizadas entre os
neurônios onde agem os neurotransmissores]”.
Costa falou
ainda sobre as áreas do cérebro onde se localizam as emoções, a razão e a
motivação. O sistema límbico, presente
nos mamíferos e herdado de nossos ancestrais, é o “guardião” das emoções, e ele
já nasce com o bebê. “A criança é límbica, ou seja, ela é do afeto, da
sensibilidade e da espontaneidade. Então, as crianças têm que ser ensinadas
pelos pais sobre o momento certo de falar, de respeitar os colegas, esperar,
etc.”, destacou. O lobo frontal envolve a nossa razão. “Não somos 100% razão ou
100% emoção. Nenhuma decisão humana é só racional ou só emocional: sempre há um
equilíbrio”, afirmou Costa.
Ainda sobre a
relação entre as experiências vividas e o cérebro, o neurologista apresentou o
conceito da plasticidade cerebral, que é justamente a capacidade que o cérebro
tem em se remodelar em função das conexões do sujeito com o ambiente,
destacando que o aprendizado é o maior exemplo de plasticidade. “O aluno não
sabia ler, mas aprendeu; não sabia escrever, e agora sabe. Os professores são
regentes da neuroplasticidade”, ressaltou. O aprendizado começa com a postura
do professor e cabe a ele a responsabilidade em passar a mensagem correta.
Costa concluiu a palestra falando que os estudantes aprendem por motivação,
prazer, satisfação e recompensa. Quando o aluno está motivado ou é recompensado
por algo, ele libera dopamina, o neurotransmissor da satisfação. “O aprendizado
precisa de reforço. A recompensa é a base da motivação. Liberem a dopamina dos
seus alunos”, sugeriu.
Entendendo e lapidando cérebros para
toda a vida
O Dr. André
Palmini, chefe do Serviço de Neurologia do Hospital São Lucas da PUCRS, diretor
científico do Programa de Cirurgia da Epilepsia no mesmo hospital, professor
adjunto de Medicina Interna da PUCRS e pesquisador do Instituto do Cérebro do
RS, salientou que, embora nasçamos com um padrão genético, ele pode ser
modificado ao longo do tempo em função das experiências vividas. O neurologista
afirmou que os pais e os professores impactam diretamente no cérebro das
crianças, daí a importância em ensiná-las a se controlarem e a lidarem com
frustrações. “Isso é fundamental para o resto da vida”, enfatizou.
Palmini
comentou que a neurociência considera que a relação professor e aluno deva
envolver empatia, motivação e entendimento. “O professor sente o ato de ensinar
como uma recompensa refinada, e o aluno sente o processo de aprendizagem como
algo recompensador”. Na parte final da palestra, ele apresentou o conceito da
geração multitasking, ou seja, são
pessoas que fazem diferentes atividades ao mesmo tempo, não podem esperar e
quer que todos que estão conectados atendam imediatamente aos seus
questionamentos. O médico mostrou uma pesquisa realizada pelo US Bureau Labor Statistics de 2014 que
identificou que na metade do tempo que estudantes do Ensino Médio estão fazendo
tarefas escolares, eles também estão ouvindo música, assistindo televisão, etc.
“Nos dias de hoje focar em um único estímulo implica ter uma atitude ativa de
não sucumbir ao desejo de estar multiconectado”, frisou.