“Crianças, adolescentes e o mundo virtual: quando a diversão vira
problema” foi o tema do encontro do programa Cuidar é Básico que aconteceu na
noite de quinta-feira, 04 de maio, no Auditório 1 do Colégio Farroupilha. Para
abordar o assunto com as famílias presentes, os convidados foram a psicóloga
Aline Restano, pesquisadora do GEAT (Grupo de Estudos sobre Adições
Tecnológicas), e o advogado Luciano Escobar.
A psicóloga ressaltou a importância de se conversar com os filhos sobre
tecnologia, buscando saber quais redes sociais eles acessam, de que jogos
participam, bem como de entender a relevância disso nas vidas deles. “Desde
quando nossos filhos são muito pequenos a gente vai ensinando regras e valores
para eles. Muito antes de eles saírem sozinhos, falamos que é preciso olhar
para os dois lados antes de atravessar uma rua”, observou a psicóloga,
afirmando que temos que inserir a conversa sobre tecnologia nessa mesma lógica.
“A gente chega um dia e dá de presente a eles uma tecnologia, mas não conversa
sobre isso. Isso acontece porque não tivemos um modelo, nós somos a primeira
geração que têm que conversar com os filhos sobre tecnologia”, afirmou.
Na sequência, Aline passou a dar algumas dicas sobre como abordar o assunto
com as crianças, como não demonizar a internet e adotar um tom tranquilo e
natural, sem dramatizar situações que envolvem as tecnologias. Já entre os
assuntos que devem ser falados, ela ressaltou alertar ao uso adequado de
senhas, sem compartilhá-las com amigos e o cuidado ao tirar e enviar fotos,
lembrando que as pessoas e relações mudam. “É preciso mostrar que de tecnologia
eles entendem muito, mas de vida vocês entendem mais”, aconselhou.
Já o uso frequente da internet, que muitas vezes vira dependência, a psicóloga
atribuiu ao papel social e ao de alívio de tensões que essa tecnologia
proporciona: “A internet alivia muito rapidamente as nossas sensações. No lugar
de pensarmos porque estamos tristes ou irritados, vamos nos distrair com a
internet”, comentou. Ela trouxe ainda informações que mostram que o ato de
postar gera prazer por despertar o sentimento de popularidade, feedbacks
positivos, e a sensação de pertencimento a um grupo.
Ao comentar o desafio da Baleia Azul, que popularizou-se aqui no Brasil
nas últimas semanas, a psicóloga o colocou como “mais um jogo, mais um ponto
negativo não apenas da internet, mas que faz parte da capacidade de perversão
humana”, e que o importante é os pais conversarem com os filhos sobre isso,
buscando compreender o que eles sabem sobre o jogo, se acham que é verdade, por
que acham que os “mediadores” tem interesse em fazer isso, por que acham que as
pessoas participam e o que se pode fazer se souber de alguém que está participando
do jogo.
Fechando o encontro, o advogado Luciano Escobar trouxe aspectos judiciais
relacionados ao tema, como o que caracteriza uma criança e um adolescente,
quais direitos eles têm e quais os deveres e direitos dos pais em relação ao
uso que os filhos fazem das tecnologias. “O direito à privacidade das crianças e dos
adolescentes estabelecidos por lei não significa que eles passarão a viver ao
nosso lado, mas isolados. Nós temos o direito e temos o dever de acompanhar as
redes sociais, de acompanhar as rotinas diárias. Isso é nosso dever como pais,
como cidadãos, como educadores. Porque nós pais educamos, a escola escolariza,
são processos diferentes. O papel da escola é complementar ao da nossa casa”,
afirmou.
De acordo com o advogado as situações no mundo virtual são sempre muito
semelhantes às do mundo real e a diversão vira um problema quando não usamos
corretamente as tecnologias. Atos como o Cyberbullying
(Bullying praticado via internet), o acessar ou a produção de conteúdos que
violem a privacidade ou a dignidade da criança e do adolescente, e a
valorização da publicidade infantil ou de conteúdos inapropriados e violentos
foram exemplos de uso inadequado da internet trazidos por Luciano.
Indo ao encontro da palestra da psicóloga, o advogado ressaltou: “Como
advogado e como pai eu digo que nós temos que estar atentos ao que nossos filhos
fazem em todos os espaços: na escola, na rua, na pracinha do prédio e na
internet”, concluiu, alertando ainda ao fato de que muitas vezes as crianças e
adolescentes podem ser vítimas, mas também podem ser algozes de atos de
agressão virtual, mesmo sem perceber, e que os pais devem orientá-los para que
façam bom uso das tecnologias.