20/Nov/2015
“O exemplo não é uma das maneiras de se ensinar. É a única”
“Uma paciente chegou ao meu consultório e me falou: ‘doutor, eu olho mais para o meu celular do que para o meu filho’”. Foi com esta frase que o psiquiatra Sérgio de Paula Ramos começou a sua palestra no último encontro geral do Programa Cuidar é Básico, na noite de quinta-feira, 19 de novembro, no Auditório. Com o tema “Em tempos de selfie: onde está o nosso olhar?”, o especialista mostrou às famílias presentes uma linha do tempo do selfie. A primeira onda aconteceu com o surgimento dos espelhos, no século 13; a segunda onda foi com a descoberta da fotografia e, por fim, a terceira onda surge com a internet.
Sérgio lembrou o sociólogo Zygmunt Bauman que afirma que o desenvolvimento tecnológico favoreceu o surgimento da modernidade líquida. “Hoje, o que temos é a invasão do espaço privado no público, as relações amorosas são instantâneas, mediáticas e fugazes”, disse. Além disso, a tecnologia trouxe um declínio na relevância do outro com o consequente incremento das necessidades narcisas. “O cuidar é relativizado, podendo até ser terceirizado”, falou, referindo-se ao fato de que muitos pais transferem para a escola o dever do cuidar.
Com a era do “selfie”, o que se vê, de acordo com o psiquiatra, são crianças e adolescentes com poucos cuidados. Este fato pode acarretar numa geração que apresenta patologias externalizantes na infância, que experimenta o álcool precocemente e com quadros psiquiátricos negligenciados. “Pais não muito presentes tendem a substituir o dar-se por dar coisa, ou seja, não cuidam efetivamente e para o bem”, destacou. A falta paterna e/ou materna faz com que a nova geração viva em uma Clínica do Exagero: muito tempo no computador, muitas horas de exercício na academia, muita bebida nas festas, etc.“O exemplo não é uma das maneiras de se ensinar. É a única”, ressaltou.